:01: Fibromialgia e exercícios físicos

 
por Dra. Fernanda R. Lima, reumatologista convidada

A Fibromialgia é uma patologia comum na prática clínica do reumatologista e se caracteriza pelo quadro de dor muscular difusa e crônica, freqüentemente associada a queixas de fadiga, distúrbios do sono, e pouca resistência a qualquer forma de atividade física um pouco mais intensa.

Essa patologia afeta mais os pacientes é do sexo feminino, com pico de incidência entre 30 e 60 anos de idade, embora é vista também no sexo masculino e em adolescentes. Embora a manifestação mais típica do quadro seja a dor musculo-esquelética difusa, a queixa inicial pode ser de uma dor localizada em uma região do corpo. A dor é crônica e persistente, e para um mesmo paciente pode variar de intensidade, exacerbando-se nos períodos de ansiedade, ou estresse físico ou psicológico. Outros sintomas freqüentemente citados são sensação de adormecimento, pontadas, queimação ou cãibras.

As causas ainda estão sendo investigadas. Existem hipóteses de desregulação neuro-hormonal e metabólica influenciado no desencadeamento do quadro.

O diagnóstico é eminentemente clínico, ou seja, não depedende de nenhum método laboratorial e sim da história do paciente e de achados típicos do exame físico detectados pelo médico.

Uma vez feito o diagnóstico, os principais objetivos do tratamento da síndrome fibromiálgica visam controlar a dor, restaurar a amplitude de movimento e a flexibilidade, melhorar a qualidade de vida e detectar e bloquear os fatores perpetuantes ou precipitantes.

A abordagem química é feita por meio de diversos medicamentos com analgésicos, relaxantes musculares, anti-depressivos, anti-convulsivantes e eventualmente ansiolíticos. No entanto, uma arma fundamental no tratamento da Fibromialgia é o exercício físico.

Nos últimos anos, as intervenções por meio de exercícios descritas na literatura médica foram baseadas em estudar isoladamente ou combinados os componentes da aptidão (flexibilidade, força, condicionamento aeróbio), testar o efeito dos exercícios executados dentro da água e aplicar intensidades variáveis de esforço. De uma maneira geral, esses estudos mostram evidências que os pacientes com Fibromialgia toleram a intervenção com ganho de condicionamento aeróbio e força muscular sem piorar os sintomas de Fibromialgia. Além disso, conforme foi comentado em um estudo de revisão que avaliou os principais estudos controlados de exercício físico em pacientes com Fibromialgia, os pacientes, quando comparados ao grupo controle, demonstraram melhora em parâmetros de dor, qualidade de vida medido por meio de diferentes instrumentos, humor e contagem de “pontos gatilhos” (que são pontos específicos de dor descritos em pacientes com Fibromialgia) e diminuição dos sintomas.

Os programas de exercícios físicos para pacientes com Fibromialgia têm incluído atividades aeróbias, de alongamento e de fortalecimento muscular. O condicionamento cardiovascular com exercícios aeróbios em pacientes com Fibromialgia não apenas é capaz de melhorar a condição cardiovascular, mas também induzir melhoras significativas nos parâmetros de dor.

Os pacientes com Fibromialgia apresentam dificuldade em se manter ativos em função da percepção que a atividade física pode ser geradora de dor. Nesse sentido, os pacientes se tornam rapidamente descondicionados, apresentam queda na produtividade no trabalho e em situações extremas perdem a capacidade de executar tarefas essenciais do seu dia a dia.

A introdução da prática aeróbia e de flexibilidade deve ser feita de maneira gradual, uma vez que estes pacientes tendem a ser extremamente sedentários e frequentemente se queixam de terem suas dores desencadeadas pelo esforço físico. Vale ressaltar que embora o ganho de condicionamento seja lento, essa intensidade de treino já produz desacelaração na curva de descondicionamento do paciente fibromiálgico, podendo promover ganhos práticos na qualidade de vida do paciente.

Em síntese, a Fibromialgia é uma patologia heterogênea quanto à gravidade e quantidade de sintomas. Portanto, ao se prescrever exercícios, o melhor é fazer de forma individualizada, considerando o condicionamento basal do paciente e as limitações particulares de cada indivíduo.

por Dra. Fernanda R. Lima
Reumatologista e Médica do Esporte
Chefe do Ambulatório de Medicina Esportiva da Disciplina de Reumatologia
da Faculdade de Medicina da USP


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